E foi até estranho, a gente nem deu conta, talvez na outra ponta alguém pudesse pensar: 'menino vaga-lume, flor, menino estrela, a brisa mais forte veio te buscar'. Pra temperar os sonhos e curar as febres, pra inserir nas preces do nosso sorriso, brincando entre os campos das nossas idéias, somos vaga-lumes a voar perdidos.
(- Vagalumes, O Teatro Mágico)
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Por que a chuva não
cansa de cair?
Gostaria de saber se
ela deseja sufocar as
flores amarelas do campo
ao lado da estrada
ou os dentes-de-leão -
para que não voem mais como aquele dia.
Por que ela não para de
molhar a rua?
Chega de faxina agora.
Me deixe colocar um
pouco de ordem na vida!
É tão importante para
você preservar o verde
do campo misturado com
o barro do solo?
Esqueça aqueles olhos
ao menos por um dia.
Pé na estrada,
poça d'água nos passos e
vou seguindo olhando o
reflexo deformado dos postes
nas poças agitadas por
essa chuva - hora amiga,
hora inimiga -,
transformando o brilho
em fagulhas irreais.
Carros não me vêem
e pessoas não me notam.
Por que sou a única
que parece não se
importar em molhar
os pés enquanto
atravessa o rio em
que se transformou a rua
depois da ponte?
Asfalto,
paralelepipedo,
pedra,
cascalho.
E a chuva chorando,
sempre presente.
Por que não desafogo
os presentes?
Sei que eles merecem
um futuro longe dos meus
ciumentos e
estranhos braços,
mas preciso de provas
de que o passado era presente.
Um passado que ficou
nas lembranças.
E a chuva.
A mesma chuva.
Ela também reclama a
sua falta,
por que pensa que ela
não pára de cair?
E na reta final
do caminho onde
só havia casa fechadas,
postes ligados, chuva caindo
e eu andando,
me deparo com uma vasta escuridão
no final da estrada.
Nenhum poste ilumina
aquele local, ninguém
acha necessário,
ninguém julga importante,
fora eu e, talvez, quem sabe, você.
Nenhuma luz para
iluminar o campo.
O que há ali são pequenos
lampeões verdes
(queria lhe mostrar, lembra?).
Faíscas que não queimam a relva
e nem são, tampouco, como as
que havia visto nas poças d'água
quilômetros antes,
pois essas eram
reais, como você foi
- e ainda é.
Quando lhe fiz notar uma
única faísca destas
que vagava solitária
ao lado da casa,
ela deve ter lhe visto e
ficado fascinada
com seus olhos, e, assim,
tentada á produzir
o mesmo brilho.
Pois o que eu via
agora era,
não uma faísca solitária,
mas dezenas delas
iluminando o verde campo
que a noite chuvosa
pintou de negro.
A triste, chorosa e saudosa
chuva não suporta esses
lumes verdes a lhe
lembrarem desse brilho
que mora no seu manso
olhar - á ela basta
o martírio doce
de ver a cor deles
nesse campo encharcado -,
e tenta apagar,
á custo e sem sucesso,
essas fagulhas antes que
se transformassem em
labaredas em mim.
Chuva ciumenta.
Vagalumes invejosos.
Olhos encantados.
Sorriso nos lábios.
Autoria: Preta - | Caiu no Papel dia: 08/12/2010
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